Cantinho da Tati: "É vencer ou vencer... em tudo"


É VENCER OU VENCER... EM TUDO
(Tatianna Raquel)

Você sabe qual é a sua lembrança mais antiga? Aquela passagem da sua vida que continua lá, independente de quantos dias você já viveu? Eu sei. Nunca me esqueci da primeira vez em que li o livro de contos de fadas, "História de Rapunzel", entre todos os contos de fadas. Eu tinha cinco anos. Minha tia lia e me contava os contos de fadas. E então ao ouvi-la, me sentia num "mundo de fantasia". Que me motivou desde o primeiro instante.

 E foi então que eu vivi meus melhores momentos... e também os piores e mais tristes. A sensação de vencer na vida, chegar na liderança e ser bem sucedido em tudo é indescritível, só quem já viveu pode saber. Mas perder também é memorável... Porque a diferença é muito pequena. As pessoas normalmente pensam que há uma imensidão entre quem vence na vida e quem perde. Mas o que separa um do outro é um milésimo de segundo aproximadamente. Sabe o que é isso? Tente dizer "eu te amo", bem rápido. A vitória alcançou a margem no "eu". O último lugar, no "amo". É esse milésimo que define uma luta. E toda a vida de algumas pessoas. Aqueles míseros instantes fazem com que você seja um vencedor ou um derrotado, porque quem é talentoso e motivado pelos contos de fadas nunca está disputando apenas para ele mesmo. As pessoas te pedem satisfação. Podem te amar ou te odiar só pela sua performance. Ninguém quer saber se você teve insônia, brigou com a família ou teve uma desilusão amorosa... Sua vida não pertence apenas a você. E por isso que é tão difícil. A pressão permeia nossos dias, como uma sombra constante, como uma companhia silenciosa que esqueceu de ir embora. Então, só se é uma pessoa talentosa e motivada de verdade quando você passa pelos dois lados: pela vitória, mas também pelo fracasso. Porque a vontade de desistir é ininterrupta. Ela vive à espreita e fica ainda mais forte quando você não consegue o que deseja, torna-se um derrotado ou não atinge um índice desejado. E apesar disso ainda tem que dar satisfação para todo mundo, gente que nunca te viu levantar às seis da manhã em pleno inverno pro trabalho. Mas é isso que faz a diferença. É isso que te torna um alguém talentoso e motivado de verdade. É exatamente o fato de não desistir. É saber que, depois de uma derrota, você pode estar a apenas um milésimo de segundo de uma vitória. E que aquilo só depende de você.

 Nesse momento, sinto que eu fui derrotada em uma ocasião que eu nem sabia que eu estava disputando. Imaginei que teria a vida inteira para fazer um certo percurso e por isso planejei que eu poderia fazê-lo sem pressa, para conhecer melhor algo novo, coisas maravilhosas, as riquezas, conquistar o que/quem eu gostaria de obter e conseguir o que eu mais desejo... Porém, de repente me avisaram que meu tempo tinha acabado, quando pensei que ainda nem tivesse começado. Por um milésimo de segundo, entrei na maior furada, tropecei até cair no chão e fui derrotada. Oh sim, eu poderia ter me tornado uma vencedora. Mas ao menos agora eu me sinto uma verdadeira pessoa talentosa e motivada. Após essa grande derrota, pude vislumbrar o que antes não enxergava. Me levantei, me recompus, olhei para o Alvo, segui em frente e estou preparada para conseguir tudo aquilo que desejo.

 Usei toda essa metáfora motivacional porque essas palavras estão sendo direcionadas para o cantor japonês Kiyoshi Hikawa (intérprete da música "Shōbu no Hanamichi") e sei que ele vai entender o que eu quero dizer. Assim como eu, ele já passou por altos e baixos e sabe bem como é difícil não alcançar uma meta. E é especialmente para ele que eu quero contar uma história, para que, quem sabe, me ajude a vencer na vida e ele venha ao Brasil para 3 apresentações em São Paulo... Pois infelizmente ele só pode ser concluído a dois.

 氷川きよしさん、こんにちは! (Hikawa Kiyoshi-san, kon'nichiwa!)
 Olá, querido Kiyoshi!

 Estou te escrevendo uma carta pra saber como vão as coisas em seu concerto ao vivo. Sou sua admiradora brasileira e curto muito seu trabalho.

 Antes de mais nada, deixa eu te falar: falo oito idiomas (entre os quais o inglês e o japonês, que vou lhe contar mais adiante). Além disso, aprendi a tocar piano, teclado, flauta-doce e violão. Eu sempre gostei de cantar e faço aula de canto.

 Paralelamente a isso, comecei a me dedicar aos livros de contos de fadas. Tal como ao canto, notei que aquela coisa fabulosa me fazia uma pessoa virtuosa e corajosa.

 Mais ainda: além do inglês, aprendi também o idioma japonês. Além disso tudo, comecei a tomar conhecimento da cultura japonesa, de seu país de origem, a partir daí. Foi quando eu assisti pela TV, em 1988, os programas apresentados por Rosa Miyake, "Japan Pop Show" e "Imagens do Japão", em que, não só comecei aos poucos a me aprofundar mais sobre a cultura de seu país, como também comecei a escutar a música enka e até J-pop.

 Minha mãe me incentivou a ir cada vez mais além, mas muitas vezes isso me impediu de ter uma vida normal. A disciplina exigida de uma forma familiar sempre veio de encontro ao meu desejo de me aventurar, de correr atrás dos meus sonhos. Por muitos anos driblei essa vontade com alguns compromissos e ocasiões. Graças à isso, conseguia ter uma série de compromissos... E a partir de 2014, visitei o Bairro da Liberdade (uma colônia japonesa) em São Paulo, aonde vou mês sim, mês não, para passear, fazer compras e me divertir. E foi numa dessas ocasiões, num desses compromissos, lá na Liberdade, que eu conheci o seu trabalho e sua música.

 Quando soube daquilo, dei um jeito de ir. Eu pensava que seria apenas um negócio de tokusatsu, mas realmente não contava com uma "fatalidade"... que naquele dia eu iria me apaixonar pela sua melodia.

 Quando te escutei cantando a música "Tokimeki no run'ba" (Rumba apaixonante), eu fiquei hipnotizada. Foi mais do que amor à primeira vista: era amor à primeira audição! E aí você já imagina o que aconteceu. Eu comecei a te seguir nas redes sociais (e também no site do Nagara Group), escutar suas músicas, assistir seus DVDs... E foi aí que me tornei sua fã desde então. 

Pensando agora, acho que foi graças ao meu esforço que fiquei sabendo desse tema. Apesar de tudo que passei, não deixaria de viver aquele momento. Como estou me abrindo completamente, tem algo que ainda preciso confessar: por eu ser nativa daqui, eu não ia muito a shows de música enka japonesa, eram em cidades japonesas e comunidades nipo-brasileiras. Mas desde então me tornei a primeira não-nikkei a fazê-lo! Outra: eu sei que você não veio ao Brasil ainda para o concerto ao vivo, mas eu gostaria muito que você viesse ao Brasil para 3 apresentações: uma no Anime Friends e duas em São Paulo - se é o maior sonho de seus fãs, a maioria nikkeis (bem como o meu maior sonho). Assim a comunidade nipo-brasileira vai te receber de braços abertos!

 Uma outra dúvida que eu sei que você tem é a respeito do fato de você ter ido visitar Taiwan (junto com Misaki Iwasa e os rapazes do Hayabusa - Hikaru, Yamato e Shouya), bem no finzinho de 2016. Não foi à toa. Até aquele dia seus fãs taiwaneses torciam pra que você fosse lá para o concerto, uma visita. Porém ei-lo aí... Como visitante ilustre. Mas no fundo, no fundo mesmo, você superou as expectativas e deu a volta por cima. Foi quando você chegou àquela altura em que a música "Otoko no zesshô" (O canto de um homem) que você canta fala de como você chegou à idade da razão em grande estilo. E a essa altura em que a música "Shōbu no Hanamichi" (É vencer ou vencer), lançado um ano depois, é motivacional.

 O interessante é que em certa parte da música "Shōbu no Hanamichi", a música em questão, a letra diz:
人生この世は 一番勝負 (Jinsei kono yo wa ichiban shōbu)
A vida é o maior jogo neste mundo.

 Espero que você me entenda melhor agora. Desculpe eu falar aquilo outro, mas o que eu te contei é tudo verdade. Mas se isso serviu para alguma coisa, foi pra aprender que não devemos adiar revelações importantes. Porque senão, por um milésimo de segundo podemos perder o compromisso mais importante da nossa vida... E uma história de amor, carinho, respeito, amizade e superação que poderia ser linda, corre o risco de ficar incompleta e não ter um final feliz.

 Muito obrigada e boa sorte em seus concertos ao vivo. 

Continuarei sempre torcendo por você.

 Tatianna Raquel
(Brasil)

Kiyoshi Hikawa - "É vencer ou vencer" (勝負の花道 Shōbu no Hanamichi)


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