Palestra 23: "Funk Ostentação: animador ou controverso?"

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- Os Manos de Cape Town

Com letras que falam de baladas, roupas de grife (“kit”), carrões (“naves”) e muita curtição, o funk ostentação tem acumulado milhões de views no YouTube e se tornou a nova febre do gênero, que já foi romântico, proibidão, safadinho, e agora só quer saber de ostentar.

O Funk ostentação é um estilo musical brasileiro, criado no ano de 2008, na cidade de São Paulo. Considerado como uma vertente do funk paulista, o gênero desenvolveu-se primeiramente na Região Metropolitana de São Paulo e na Baixada Santista, antes de alcançar proporções nacionais a partir de 2011. Os temas centrais abordados nas músicas referem-se ao consumo e a propriamente dita ostentação, onde grande parte dos representantes procura cantar sobre carros, motocicletas, bebidas e outros objetos de valor, além de fazerem frequentemente citações à mulheres e ao modo de como alcançaram um maior poderio de bens materiais, exaltando a ambição de sair da favela e conquistar os objetivos.

Sem discos lançados ou tanta exposição nas rádios, o funk ostentação é um fenômeno que cresce graças aos clipes no YouTube, em sua maioria superproduções. Pra se ter ideia, os MCs de maior sucesso do movimento ostenção chegam a fazer 50 shows por mês, faturando cerca de R$ 200 mil.

O gênero foi criado como uma alternativa à lírica abordada pelo ritmo carioca, que citava essencialmente conteúdos relacionados com a criminalidade e com uma vida de sofrimento. A primeira canção do estilo foi gravada pelos MCs Backdi e Bio G3 em setembro de 2008, intitulada "Bonde da Juju", fazendo menção clara para a ostentação. Após a realização de diversos festivais do gênero no estado, vários cantores foram sendo descobertos, enquanto outros acabaram se readaptando ao funk ostentação, que alcançou a primeira exibição nacional com o lançamento do videoclipe "Megane", do cantor MC Boy do Charmes, em meados de 2011. Quando tornou-se de senso comum que o funk ostentação seria melhor representado no formato audiovisual, o cinegrafista KondZilla inovou ao ser o primeiro a produzir conteúdos visuais, que foram recebidos com ampla aprovação pelos fãs. Para exemplificar isto, três videoclipes do ritmo estiveram entre os dez mais vistos nos anos de 2012 e 2013.

A consolidação do funk ostentação como um dos gêneros mais conhecidos do país aconteceu com o trágico falecimento de Daniel Pellegrine, conhecido no meio artístico como MC Daleste, o qual foi alvejado por dois tiros de arma de fogo enquanto realizava um show em Campinas, em julho de 2013. Ele era um dos principais representantes do estilo no momento de sua morte, a qual foi noticiada nacional e até internacionalmente, tornando-o um dos nomes mais pesquisado no Google no Brasil naquele ano. A exposição do caso na mídia fez com que outros artistas do funk concedessem entrevistas aos canais de televisão com depoimentos sobre a carreira e o fato acontecido.

Com o surgimento de um grupo econômico conhecido como nova classe média, o funk ostentação passou a obter estrita relação com os membros do mesmo, que após conseguirem uma elevação na situação financeira, buscam seguir os passos dos artistas, tornando este o gênero mais escutado pelos que se encontram neste patamar. Atualmente, os principais representantes do ritmo e que acumulam maior número de visualizações em suas canções e videoclipes são MC Guimê, MC Lon, MC Gui e MC Pocahontas.

Durante muitos anos, cultivou-se uma grande rivalidade entre os estados de São Paulo e Rio de Janeiro no que tange aos estilos musicais predominantes em cada região. O Rio de Janeiro, por exemplo, criou o ritmo funk carioca, que possui em sua essência temas como a vida nas favelas e a exaltação da mulher - esta última, através do funk melody, e ao "proibidão", que canta sobre criminalidade e possui conteúdos de apelo sexual; no entanto, tal estilo não era aceito em São Paulo, pois era julgado pela maioria como alienante - apesar de uma crítica social se encontrar presente. Em contrapartida, os paulistas apresentavam um discurso contundente espelhado nos rappers norte-americanos da chamada velha escola do hip hop, preocupando-se em expor os problemas do governo em batidas pesadas e agressivas, as quais não foram bem-recebidas no estado vizinho por serem vistas como "chatas e antidiversão". Esta divisão explica a existência de poucos cantores de funk em São Paulo, bem como poucos rappers no Rio de Janeiro. Com o funk ostentação, essa divisão entre os estados acabou ficando bem menor, visto que ambos encontraram um "meio-termo" em seus ideais.

Não há um tema único tratado nas canções de funk ostentação, porém, como o próprio nome já diz, a maioria dos artistas faz uma menção a ostentar, ou seja, vangloriar-se com alta pompa sobre algo. Entre os assuntos mais utilizados pelos artistas estão os bens materiais - como carros, motocicletas, casas, apartamentos, roupas, acessórios e bebidas - mulheres e a ascensão social, ocasionada por uma ideia de ambição e superação. Na moral, rapaz: você vê que, da mesma forma que, na música enka japonesa suas letras contém palavras de melancolia (tendo como palavras principais: lágrimas, sakê, lembranças, separação, terra natal, etc.), no funk ostentação suas letras falam daquele tema, bem diferente da temática usada na música enka japonesa e outra no nosso samba (este que fale de amor)! Se você comparar dois, três ou mais estilos musicais com temáticas diferentes, você logo vai notar a diferença!

Até nosso personagem, MC Marcelão, é muito eclético: sabe misturar funk ostentação com outros ritmos. 

MC MARCELÃO: DOIDO POR OSTENTAÇÃO

MC Marcelão é o mais rico dos mestres de cerimônias do Morro da Nova Cintra em Santos. Depois de ter ganho R$ 1.000.000,00 no concurso de dança de rua. A sorte chegou quando Marcelão foi convidado pelo sul-africano MC Mburti pra divulgar seu trabalho na Cidade do Cabo, onde conhece Mburti, Waila, Karhari, Njila e Geraldine, todos hip hopers sul-africanos. Ele então apresenta o funk ostentação e o hip hop para os colegas. No final, Marcelão volta feliz pra casa com tudo junto e misturado. 

O funk e o rap, em especial o rap brasileiro, sempre tiveram uma ligação próxima no ponto em que ambos abordavam a cultura da favela de forma humilde, e que era contra o consumo exagerado de bens. No entanto, este "boom" que o funk ostentação provocou na música modificou também o cenário do rap no país e causou inúmeras polêmicas. Os críticos mais conservadores, adeptos do hip hop alternativo e do gangsta rap, comumente proferem frases como "adeus rap nacional", e "o rap nacional foi morto". A posição de que os dois ritmos se opõem no que tange ao conteúdo lírico é defendida por rappers como MV Bill e Carlos Eduardo Taddeo, ex-Facção Central.

Considerado como o maior rapper da história brasileira, Mano Brown foi alvo de diversas críticas ao participar de um videoclipe de Pablo do Capão, seu conterrâneo do Capão Redondo, onde não participou de nenhum verso. Membro do mesmo grupo, os Racionais MC's, o cantor Ice Blue também esteve no meio de uma polêmica ao participar junto com Sandrão, do RZO, no clipe "Estilo Gangster" do também rapper Túlio Dek, em uma clara demonstração de influência da ostentação. Após ser alvo de graves acusações sobre o fato, Blue tentou esclarecer: "Os moleques se organizaram e perceberam que o funk ostentação dá dinheiro, é o que abriu a porta, é o que vende o sonho. Caras com dois, três anos de funk já conquistaram coisas que cara com quinze anos de rap não conquistou. Tem cara do funk com oito, nove casas, comprou casa para a mãe. Os caras do rap não conquistaram nem sua própria casa com o rap. E a gente tem que continuar chancelando isso?" Apesar do surgimento ser o mesmo, o cenário do rap brasileiro difere muito do visto nos Estados Unidos, e este é o que mais se aproxima com o funk ostentação. Cantores como 50 Cent, Snoop Dogg, Puff Daddy e Nelly são exemplos de rappers que utilizam objetos de ouro e portam veículos de luxo, servindo assim de inspiração para os cantores da ostentação.

Eu recomendo que vocês escutem 4 músicas de funk ostentação, a seguir:

- "País do Futebol" - MC Guimê featuring Emicida
- "Não me Deixe Sozinho" - MC Nego do Borel
- "Toda Toda" - MCs Pikeno e Menor
- "Novinha Vem Que Tem" - MC Lon

Fonte: Wikipédia





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